Misericórdia




Injustiçado, excluído, alvo do tiro na causa da guerra
Ta aqui seu sucesso filho da puta: Mira e descarrega!
Nasci pra ser o sangue que traz a fama, o corpo esquecido na mata
O lenitivo pro estresse, a sociedade moderna que mata
O exemplo vivo do fim sem glória de quem trocou o livro didático
Pela doença respiratória, pro prato miserável.
Que opção? Pra quem aqui nasceu pobre, com o pai inválido
Agrotóxico, fuzil ou malabarismo no semáforo?!

Justiça, o rosto irreconhecível com inúmeros furos
O sangue do inocente aqui é mérito ao ditador oculto
Que arranca sua unha no estilete, seus dentes
Te ensina que é para rolê de blazer pro meio do mato, lembranças pro diabo
Esquece e vê que paz não passou de esperança, me mata e prova pro mundo
Que aqui existe segurança, me faz crer que ainda existe luz no infinito
Se não é busca do objetivo de semi-automática, é suicídio. Pow
Pai nosso que estais no céu, santificado seja o teu nome
Me mostra o fundamento da dor da criança morrendo de fome

A inteligência do homem é o avanço tecnológico em vão
Pra que evolução da cana de açúcar, produção de carvão?
E eu só queria ser feliz e esquecer…
Que se eu quisesse viver ia ter que pedir socorro pra você
Pelo amor de Deus quem têm um trocado
Me ajuda, minha filha tem câncer caralho
Questão de tempo… Amém, caixão doado
Amor ao próximo, aí

Resume nossa dor, final feliz aqui termina fedendo num caixão com flor
Que misericórdia teórica é sangue derramado na prática
Monstruosidade atrás da figura carismática
«Click, cleck, pow» vai pro inferno
E conta pro diabo a crise do mundo moderno
Quando a catástrofe é o sangue que não repercute o luto
O choro em silêncio no escuro, aqui não comove o mundo
Pro distúrbio de quem nasceu sem documentação
Pro porco de farda te dando bica na cara e adeus audição
Assistência comum aonde conforto é acesso ao direitos humanos
Pra aquele que só teve lágrima como benção dos santos.

Que Deus te livre do veneno, do inferno sem teto
E não seja preciso reconhecer o corpo do filho do necrotério
Tentativa frustado no ferro, enterra o defunto que esperava a sorte
Aborto na base da bica no feto, pra quem só têm o corpo pra fugir da fome
Semblante traumatizado, desesperança, de um pai que foi trabalhar na chuva
E quando voltou cadê as crianças?
Descaso do filho da puta, afoga no barro toda a sua família
Me põe no assalto, de taurus, sonhando, perdeu a vida.
Maldição, peste desconhecida, refúgio.
Pra quem não nasceu herdeiro do trono é coroa de flores, silêncio no túmulo.
Crise, calamidade, tiro, «porra era meu filho»
Vem ver sua desgraça explodindo, em fogos de artifícios

Roupa branca, espectativa de paz na seguradora, armado na blindagem do vidro
E filmadora na porta de casa, eu preferia ser o exemplo
Sucesso com material escolar, sem precisar atirar pelo o direito de sonhar
Ódio que cega, sente a compaixão do enfermo e já era
Vai pro inferno cuzão, pra entender que o valor aqui faz a guerra
Vai pro inferno e conta pro diabo a crise do mundo moderno